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Foto: Daniel Lobo

sem
fronteiras
(2019)

Ficou linda  a gravação. Não só pela canção e pela voz do Chico, mas também pelo arranjo, que dialoga com nosso imaginário musical sobre o “estrangeiro”.

 

Embora a letra fale da “escrava vendida” e da “índia caçada”, não há referências musicais óbvias ao “afro-brasileiro” ou “indígena”. A referência musical é talvez ao “refugiado”, o que não tem visto ou passaporte, que sai de seu lugar sem saber se e onde vai ser acolhido:refugiados do Oriente – Síria, Ucrânia... – , tão presentes no noticiário internacional. Isso aparece bem no intermezzo instrumental, com trechos de escalas e acentuações rítmicas que remetem a sonoridades do Oriente próximo, entre o mundo árabe e os Bálcãs... Mas a eles se associam, na canção, desalojados brasileiros, do rio Doce, das inundações: aqueles que não têm descanso, pois sua única cama é o leito do rio devastado pela poluição. 

 

O estrangeiro aqui é também conterrâneo: é todo aquele que perde seu lar. E o enunciador da canção é um cidadão do mundo, que tem lar e passaporte, mas se identifica com os que não têm,em seu desejo de superar todas as fronteiras: vendo o que é “mais profundo” na conexão entre as pessoas.

 

O lugar da canção é onde “não ter um lugar” se converte em transformar o mundo num lugar para todos.

 

Carlos Sandroni

Músico e professor de Etnomusicologia da UFPE

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